Óleo sobre Tela de Gilda Portella |
OBA, a terceira mulher de Xangô
Obá era uma mulher cheia
de vigor e coragem.
Faltava-lhe, talvez, um
pouco de charme e refinamento.
Mas ela não temia
ninguém no mundo.
Seu maior prazer era
lutar.
Seu vigor era tal que
ela escolheu a luta e o pugilato como profissão.
Obá venceu todas as
disputas que foram organizadas entre ela e diversos orixás. Ela derrubou
Obatalá, tirou Oxóssi de combate
e deixou no chão
Orunmilá.
Oxumaré não resistiu à
sua força.
Ela desafiou Obaluaê e
botou Exu pra correr.
Chegou a vez de Ogum!
Ogum teve o cuidado de
consultar Ifá, antes da luta.
Os adivinhos lhe
disseram para fazer oferendas,
compostas de duzentas espigas de milho e
muitos quiabos.
Tudo pisado num pilão
para se obter uma massa viscosa e escorregadia.
Esta substância deveria
ser depositada num canto do terreno onde eles lutariam. Ogum seguiu fielmente
estas instruções.
Na hora da luta, Obá
chegou dizendo:
- "O dia do encontro é chegado."
Ogum confirmou:
- "Nós lutaremos, então, um contra o
outro."
A luta começou.
No início, Obá parecia
dominar a situação.
Ogum recuou em direção
ao lugar onde ele derramara a oferenda.
Obá pisou na pasta
viscosa e escorregou.
Ogum aproveitou para
derrubá-Ia.
Rapidamente, libertou-se
do pano que vestia e a possuiu ali mesmo,
tomando-se, desta maneira, seu primeiro
marido.
Mais tarde, Obá tomou-se
a terceira mulher de Xangô, pois ela era forte e corajosa.
A primeira mulher de Xangô foi Oiá-Iansã, que
era bela e fascinante.
A segunda foi Oxum, que
era coquete e vaidosa.
Uma rivalidade logo se
estabeleceu entre Obá e Oxum.
Ambas disputavam a preferência do amor de Xangô.
Obá sempre procurava
surpreender o segredo das receitas utilizadas por Oxum quando esta preparava as
refeições de Xangô.
Oxum irritada, decidiu
preparar-lhe uma armadilha.
Convidou Obá a vir, um
dia de manhã, assistir à preparação de um prato que,
segundo ela, agradava infinitamente a Xangô.
Obá chegou na hora
combinada e encontrou Oxum
com um lenço amarrado à cabeça, escondendo as
orelhas.
Ela preparava uma sopa
para Xangô
onde dois cogumelos
flutuavam na superfície do caldo.
Oxum convenceu Obá que
se tratava de suas orelhas,
que ela cozinhava, desta
forma,
para preparar o prato
favorito de Xangô.
Este logo chegou, vaidoso
e altivo.
Engoliu, ruidosamente e
com deleite, a sopa de cogumelos e,
galante e apressado, retirou-se com Oxum para
o quarto.
Na semana seguinte, foi
a vez de Obá cuidar de Xangô.
Ela decidiu pôr em
prática a receita maravilhosa.
Xangô não sentiu nenhum
prazer ao ver que Obá se cortara uma das orelhas.
Ele achou repugnante o
prato que ela lhe preparara.
Neste momento, Oxum
chegou e retirou o lenço,
mostrando à sua rival
que suas orelhas não haviam sido cortadas, nem comidas. Furiosa, Obá precipitou-se
sobre Oxum com impetuosidade.
Uma verdadeira luta se
seguiu.
Enraivecido, Xangô
trovejou sua fúria.
Oxum e Obá, apavoradas,
fugiram e transformaram-se em rios.
Até hoje, as águas
destes rios são tumultuadas e agitadas no lugar de sua confluência, em lembrança
da briga que opôs Oxum e Obá pelo amor de Xangô.
Lendas Africanas dos Orixás de Pierre Fatumbi Verger
& Carybé , 4 edição, Salvador: Corrupio, 2011 paginas 52 a 54.
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