segunda-feira, 31 de outubro de 2016

O Espaço Dos Nossos Corpos - Maria Ribeiro












Texto é de  Maria Ribeiro, fotografa e autora do livro Nós, Madalenas - Uma Palavra Pelo Feminismo,  as Imagens são fotos de uma Tela  de Gilda Portella

domingo, 30 de outubro de 2016

UMBIGAR - ISIS CASTRO

                                                                 





"Umbigar, na dança afro-brasileira, é um dialogo entre corpos que representa o respeito do espaço e a saudação do outro na roda. Em algumas danças, é a Punga, onde é necessário dar espaço para o outro corpo brilhar em frente ao tambor. Onde um corpo umbiga, concordando que o outro, tome seu espaço, e assim comece a saudar o tambor. Diferente da Umbigada do Coco, por exemplo, onde o movimento é convidativo ao outro corpo entrar dentro da roda, ou o do Jongo, onde a umbigada é continua entre os dois corpos dentro da roda. Sem duvida, a umbigada seria um movimento sagrado, entre um dialogo de corpos, que saudá o ritmo e os tambores. Diversos são os ritmos tradicionais brasileiros onde tem a umbigada, a maioria, vem de saudações sagradas, como por exemplo as rodas de São Benedito, presente em todas as regiões do País, cada um com a sua beleza, riqueza e singularidade. É um movimento rico, lirico, sagrada e lúdico que convida as pessoas a viver a Dança de Roda." Isis de Castro - produtora  cultural e articuladora da Roda   de Crioula em Cuiabá/ MT 













sábado, 29 de outubro de 2016

Sustância de Luis Guilherme Santos Rocha (Jahari)




Sustância


Já assustei tanta gente nessa vida
Que nem me abala a cara de espanto da academia
Assustei branco racista
Que dizia que criança preta e feia que nem eu
Nenhum futuro tinha.
Assustei gente solidária,
Assustei gente mesquinha,
Tive de assustar a fome varias vezes
Até minha mãe chegar com algum tipo de comida...
Assustei o medo da rua, da noite
Dos becos escuros dos bairros de periferia
Assustei gente que passava por ali porque não tinha outra alternativa
E que olhava pra mim, criança pobre,
Como se tivesse alguma doença contagiosa.
Assustei o medo de brincadeira saudável,
Mas não porque fui ensinado que com tablet e internet
Não se socializa,
Não tinha nada disso.
A gente inventava brinquedo
E tinha gente muito boa nisso.
Tinha professor medíocre que me dizia
o tempo todo que eu não podia aprender
mas eu só assustei essas pessoas
porque tiveram heróis de sala de aula
que me ajudaram a descobrir o que eu realmente posso ser
deixei de estudar por um tempo
assustei meus heróis
estava triste,
cansado de viver a vida inteira assustando as pessoas e o sistema
só por ser eu mesmo.
queria grana, fama, qualquer coisa
que deixasse meu corpo e minha alma menos preta pro sistema
qualquer coisa que assustasse essa falta que parecia eterna
meus heróis procuraram por mim
sabiam que eu tinha acreditado no que me diziam
“você não tem potencial” “você não aprende mesmo né neguinho”
“olha ai, não falei que esse neguinho era problema” “ele é bom de trabalho, continue assim” "ó o serviço de preto"
Chega!
Tomei consciência de que passaria o resto dos meus dias assustando a vida
Assustei os “bons patrões”, a melhor coisa que fiz.
Vi muita gente jovem e adulta assustando o sistema voltando pra sala de aula
Afrontei o cansaço, os outro duzentos mil desânimos da vida.
As pessoas eu assustava sem esforço.
Assustei exames e provas supletivas
E cheguei a um passo do meu sonho
O de ser um professor,
herói de pelo menos uma criança
Mas na academia
Tenho sido pego de surpresa todo dia
Com toda a opressão que forma essa gente
até entendo quem me oprimia
já sei que minha formação terá de ser na base da força bruta
num susto que eu dou em cada momento da vida,
no tranco lutando contra o tronco
E é isso aí, as vezes ela me derruba
mas acho que já deu pra perceber que tombo
é mero quebra-molas na minha vida.
e é isso aí, cabeça preta e coroa crespa erguida
assustando essa gente oprimida e comprimida em si.

Ass. Jahari
#ubuntu

Luis Guilherme Santos Rocha(Jahari)
*Jovem negro, 21 anos, estudante de licenciatura em Filosofia na UFMT  que sonha em aprender a ler para ensinar seus camaradas
Jahari  - Jovem guerreiro e forte em crioulo afro-americano 







quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Exposição Flores da Chapada

Flores da Resistência.

 Chapada dos Guimarães e o cerrado renascem, todo ano, após o ataque das queimadas. Sem o glamour da Fênix, Chapada simplesmente teima em continuar linda, apesar de nós. E suas flores dão esse testemunho. Resistência e beleza não costumam ser aplicadas ao mesmo tempo, mas Mato Grosso é assim: diverso, bonito e forte. Chapada é como uma catedral, com seus paredões a destacá-la da planície, eternamente preparada para um casamento, com essa explosão de cores e odores. Temos muito a aprender com a Chapada e suas flores: a vida bate, rebate e - às vezes - queima, mas só abate quando você se entrega. Seja firme, seja forte, mas seja resiliente. Se derrubado, erga-se com mais vigor que antes e dedique suas experiências a encorajar os outros. Flores da resistência, na Chapada. São lindas, são robustas, mas são humildes e caridosas. Doam suas vidas para embelezar as nossas. Estas telas são um tributo a essa força e a essa beleza, captadas pela sensibilidade destas mulheres igualmente fortes e belas. Paulo Gorayeb Primavera de 2016
















 

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

UM ARCO-IRIS DE PROSPERIDADE - Anderson Domingos da Silva

 

 


UM ARCO-ÍRES DE PROSPERIDADE
Ouro cobre o espelho esmeralda. No berço esplêndido a floresta em calda manjedoura d'alma Labarágua, sete queda em chama Cobra de ferro, oxum-maré, homem e mulher na cama.
JOÃO BOSCO. Nação (Musica de 1982).


Uma serpente que abocanha o próprio rabo, um círculo que se encaminha de um lado para outro da realidade. Oxumaré é um Orixá. O filho preferido de Nanã, velha feiticeira, representada pela água parada e pantanosa da ancestralidade humana. Seus mistérios, ligados à morte e ao renascimento, marcam muito bem essa característica circular, de uma força que se move em direção à renovação e a comunhão, uma existência com aquilo que ela ainda não é, mas que vai se tornar.

Oxumaré, dono do pote de ouro no final do arco-íris, adepto das mudanças periódicas, apresenta e reflete situações de altos e baixos... mas como força de transformação, seu movimento é ágil e astuto, próprio das serpentes, que do sensual ao hipnótico, guarda uma beleza terrível, quase inconquistável.

Se uma parte do ano ele é um poço, profundo de subjetividade e solidão, noutra parte é arco-íris que se expande das raízes mais profundas e sombrias até o céu e ao infinito, explodindo em sete cores os resíduos de uma imersão profunda no inconsciente da nossa alma. Oxumaré, Homem-Mulher.

AXÉ

Anderson Domingos da Silva